Por que nos apaixonamos por pessoas parecidas com nossos pais?

Por que nos apaixonamos por pessoas parecidas com nossos pais?

Você já parou para pensar por que, em muitos casos, acabamos nos apaixonando por pessoas que lembram — em atitudes, traços ou comportamentos — nossos próprios pais? Pode parecer estranho à primeira vista, mas essa tendência tem raízes profundas na psicologia, na biologia e até no nosso inconsciente. Este fenômeno, conhecido como complexo de repetição ou efeito da familiaridade, revela muito sobre como construímos vínculos e formamos nossa ideia de amor.

A primeira referência de amor

Nossos pais — ou as figuras que ocuparam esse papel — são, na maioria das vezes, nossos primeiros vínculos afetivos. Desde os primeiros anos de vida, é com eles que aprendemos o que é afeto, segurança, carinho e até rejeição. São essas primeiras experiências que moldam nossa forma de amar e de esperar ser amados. Se tivemos pais carinhosos e atenciosos, é provável que busquemos parceiros com essas características. Por outro lado, se crescemos com pais ausentes, frios ou imprevisíveis, é comum, ainda que inconscientemente, procurar pessoas com perfis semelhantes, na esperança de “corrigir” o ado ou, paradoxalmente, porque essa é a única forma de afeto que conhecemos.

O conforto do familiar

O cérebro humano tende a se sentir mais seguro com aquilo que já conhece. Isso se chama efeito da familiaridade. Quando alguém nos lembra nossos pais, há uma sensação inconsciente de conforto, como se estivéssemos retornando a um lugar seguro. Essa familiaridade cria uma conexão emocional rápida, porque nosso inconsciente já reconhece os padrões e sabe como reagir a eles. Mesmo que esse padrão tenha sido doloroso, ele ainda é familiar — e o que é familiar, para o cérebro, parece mais seguro do que o desconhecido.

Repetição ou reparação?

Muitos psicólogos acreditam que repetimos padrões não resolvidos do ado em nossos relacionamentos adultos na tentativa de consertá-los. Se você teve um pai distante emocionalmente, por exemplo, pode acabar se apaixonando por alguém que tem dificuldades de demonstrar sentimentos. A ideia inconsciente é que, dessa vez, será diferente: “Se eu conseguir que essa pessoa me ame, é como se eu finalmente tivesse conquistado o amor que não tive do meu pai”. Mas isso geralmente gera sofrimento, porque a pessoa atual não tem a responsabilidade de curar feridas do ado — e muitas vezes sequer tem consciência do papel que está representando em sua vida.

Características físicas e comportamentais

A semelhança pode não se restringir apenas à personalidade. Estudos mostram que também podemos nos sentir atraídos por pessoas que têm traços físicos parecidos com os de nossos pais. Isso inclui expressões faciais, voz, jeito de andar ou até cheiro. Isso se deve, novamente, ao fator da familiaridade: o cérebro associa esses traços com cuidado, proteção e amor — mesmo que o ambiente familiar não tenha sido ideal. O resultado? Uma inclinação inconsciente por parceiros que “lembram algo”, mesmo que a gente não saiba exatamente o quê.

Genética e biologia também têm um papel

A ciência também oferece explicações biológicas para esse fenômeno. Existe uma teoria chamada imprinting sexual, segundo a qual os humanos, como outras espécies, desenvolvem uma preferência por características físicas baseadas nas figuras com quem conviveram na infância. Ou seja, ao conviver com nossos pais por tantos anos, amos a gravar, biologicamente, certos traços como atraentes. Isso pode explicar por que algumas pessoas repetem padrões físicos nos parceiros — como cor dos olhos, tipo de cabelo, tom de voz — semelhantes ao pai ou à mãe.

Isso é bom ou ruim?

Depende. Quando o modelo parental foi saudável, acolhedor e equilibrado, buscar alguém semelhante pode trazer uma relação positiva e estável. Mas quando os pais foram negligentes, abusivos ou emocionalmente instáveis, repetir o padrão pode ser destrutivo. Por isso, a consciência sobre esses padrões é essencial. Entender que você está se relacionando com alguém que repete comportamentos negativos do ado pode ser o primeiro o para quebrar ciclos e construir relações mais saudáveis.

Autoconhecimento é a chave

A melhor forma de lidar com essa tendência é olhar para dentro. Fazer terapia, refletir sobre sua infância, entender suas necessidades emocionais e observar os padrões que se repetem nos seus relacionamentos pode transformar sua vida amorosa. Quando você identifica que está buscando, em um parceiro, a validação ou o amor que faltou na infância, você ganha a chance de mudar. O objetivo não é fugir do ado, mas ressignificá-lo — e isso começa ao escolher com consciência quem você quer ao seu lado.

Conclusão

Nos apaixonamos por pessoas parecidas com nossos pais porque eles foram nossas primeiras referências de afeto com barravips. Seja pelo conforto do familiar, pelo desejo inconsciente de reparar traumas ou por fatores biológicos, essa repetição é mais comum do que imaginamos. Mas repetir padrões não precisa ser destino. Com autoconhecimento e consciência, é possível quebrar ciclos, curar feridas e escolher amores mais saudáveis — amores que acolhem, respeitam e fazem bem de verdade.

Genecy Mergulhao

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