Por que a gente ama quem nos trata mal?

Por que a gente ama quem nos trata mal?

É um paradoxo doloroso, mas comum: pessoas se veem presas em relacionamentos nos quais são maltratadas, desvalorizadas ou emocionalmente feridas — e, ainda assim, permanecem ali, amando quem lhes causa dor. A pergunta que fica no ar é: por que amamos quem nos trata mal? A resposta envolve uma mistura complexa de fatores emocionais, psicológicos e até sociais.

Feridas emocionais antigas

Muitas vezes, o padrão de amar quem nos machuca tem raízes na infância. Relações familiares instáveis, negligentes ou abusivas podem deixar marcas profundas. Quando a criança cresce em um ambiente em que o amor é condicionado, frio ou ausente, ela pode internalizar a ideia de que o amor dói, que é algo que se conquista e que exige sacrifício. Assim, ao se deparar com um parceiro que repete essa dinâmica, a pessoa inconscientemente reconhece esse “estilo de amor” como familiar e, portanto, como algo normal.

A ilusão da mudança

Outro motivo recorrente é a esperança de que o outro vai mudar. Muitos se apaixonam por quem a princípio demonstra afeto, mas que, com o tempo, se revela frio, distante ou cruel. A lembrança de como a relação começou — com carinho, atenção e paixão — cria uma expectativa de retorno a esse estado inicial. Isso prende a pessoa em um ciclo de frustração e esperança, acreditando que, com amor suficiente, o parceiro irá “voltar a ser como antes”.

Carência afetiva e baixa autoestima

Quem não se sente suficientemente bom tende a aceitar migalhas emocionais. A autoestima fragilizada faz com que a pessoa acredite que não merece mais do que está recebendo, mesmo que esse “mais” seja respeito, cuidado e amor verdadeiro. O medo da solidão também alimenta esse apego: antes sofrer com alguém do que ficar sozinho. Assim, a carência a a dirigir as escolhas afetivas, levando a pessoa a se contentar com relações tóxicas.

Vício emocional

Estudos mostram que relacionamentos tóxicos podem se tornar uma forma de dependência emocional. O cérebro a a associar os altos e baixos emocionais com paixão e intensidade. Momentos de tensão seguidos por reconciliações acaloradas ativam o sistema de recompensa do cérebro, liberando dopamina e criando um ciclo vicioso. Esse padrão se assemelha, neurologicamente, a um vício químico — o que torna ainda mais difícil se desvencilhar de quem faz mal.

Romantização do sofrimento

A cultura também tem sua parcela de culpa. Filmes, músicas e novelas muitas vezes glamurizam relações conturbadas, onde o amor “vence tudo” e onde ciúmes, brigas e desrespeito são tratados como sinais de intensidade emocional. Essa romantização do sofrimento amoroso reforça a ideia de que relações difíceis são mais verdadeiras, mais fortes — quando, na realidade, elas são muitas vezes destrutivas.

Repetição inconsciente de padrões

O ser humano tem uma tendência inconsciente de repetir padrões não resolvidos. Quando não curamos traumas ou não compreendemos nossas vivências adas, tendemos a nos atrair por pessoas que ativam essas mesmas feridas. É como se, de forma inconsciente, buscássemos “reencenar” o trauma esperando, desta vez, um final diferente. O problema é que, na maioria das vezes, a história se repete — e o final continua sendo dor.

A ideia de amor como sacrifício

Muitos cresceram ouvindo que amor é paciência, é ar, é se doar ao extremo. Embora essas ideias tenham algum fundo de verdade, quando levadas ao extremo elas podem se tornar armadilhas emocionais. Amor não é sinônimo de sofrimento. Cuidar de alguém não deve significar abrir mão de si mesmo, de seus limites ou de sua saúde emocional.

Como quebrar esse ciclo?

O primeiro o é o autoconhecimento. Entender por que você se atrai por quem te trata mal é essencial para mudar esse padrão com elitegirl. Terapia pode ser uma grande aliada nesse processo, ajudando a identificar as raízes emocionais dessa repetição e fortalecendo sua autoestima. Também é importante reavaliar suas crenças sobre o que é amor: ele não deve machucar, diminuir ou causar medo. Amor saudável é feito de respeito, afeto, acolhimento e reciprocidade.

Relacionamentos difíceis podem nos ensinar muito, mas permanecer neles por apego ao sofrimento é uma escolha que precisa ser revista. Amar alguém não pode significar deixar de amar a si mesmo. O amor próprio é a chave para quebrar o ciclo e, enfim, encontrar relações em que o amor seja leve, verdadeiro e, acima de tudo, gentil.

Genecy Mergulhao

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